É verdade que há muitas coisas boas que os nossos pais nos transmitiram e que nós replicamos na educação dos nossos filhos. Traços de caráter deles que por vezes vemos manifestados em nós. Uns bons e outros que não dão jeito nenhum. Acontece.
Quando eu era miúda, e depois pela adolescência fora, adorava seguir todos os passos da minha mãe na cozinha. Uma melga, uma sombra, o que lhe quiserem chamar. Claro que, no que diz respeito a meter a mão na massa isso era uma miragem. A minha mãe era, e é, infinitamente mais organizada e metódica que eu e tinha muita dificuldade em permitir que outra pessoa cozinhasse na sua cozinha. Ou porque deixávamos as coisas sujas, ou porque não fazíamos as coisas exatamente como ela, não sei. Sei que não tenho memórias de mim a cozinhar, a fazer bolachas ou outra coisa qualquer. Tenho outras memórias, claro. Muito queridas. Como quando ela nos levava ao mercado e as senhoras dos legumes nos davam uma cenoura e alguns restos de verduras para levarmos nas nossas cestinhas de verga e que a minha mãe permitia que, no pátio (claro, em casa não podia haver porcalhices), cortássemos e fizéssemos o que bem nos aprouvesse com aqueles legumes e brincássemos ao faz de conta nas nossas loiças de brincar.
O que é certo é que eu, no meu interior, disse muitas vezes para com os meus botões que quando fosse mãe ia ser diferente e ia fazer um monte de coisas giras com os meus filhos e que me iam ajudar a cozinhar, e...
Pois. Ironicamente, a malta cresce e, eu sou muito como a minha mãe. A paciência para ensinar e deixar fazer, mesmo que não saia bem ou bonito, é escassa.
Detesto que cirandem atrás de mim, perguntando se preciso de ajuda. Mas tenho esta consciência. E tento, muito ardentemente, contrariar esta tendência.
Ontem acabei por fazer as bolachas.
Fiz a primeira fornada sozinha. Depois, roeu-me a consciência e deixei-a fazer a segunda fornada (é verdade que lhe devo ter tirado o rolo da mão umas cinco vezes, para lhe mostrar como fazer bem...mas ao menos deixei-a fazer).
Deixo-vos a receita:
125g de manteiga amolecida
125g de açúcar
1 ovo
raspa de 1 limão (ou dois, depende do vosso gosto)
1 colher sopa sementes de papoila
400g de farinha
Bater bem todos os ingredientes, excepto a farinha e as sementes.
Por fim envolver as sementes e juntar a farinha.
Levar ao frigorífico durante uma hora envolta em película aderente.
Depois é estender e cortar.
Levei ao forno (pré-aquecido) a 180º, durante +- 20 minutos. Dependerá de forno para forno. Não as deixem ficar demasiado tostadas. Ficam bonitas branquinhas.
São boas para acompanhar um chá quentinho ou copo de leite quente com chocolate.