Por vezes, naqueles instantes em que a vida me deixa parar para reflectir, dou por mim a desesperar com a utilidade que dou aos dias. Na verdade ninguém sabe quando será o nosso último...e ponho-me a pensar - que raio fiz eu nos dias que Deus me deu este ano?
Os miúdos andam sempre num virote à nossa frente, à frente das nossas horas e dos nossos minutos contados. Despacha-te, que está na hora de ires para a escola, despacha-te, que tens os trabalhos de casa para fazer, despacha-te que tens de ir tomar banho, despacha-te que estás a demorar muito, despacha-te e vai dormir, despacha-te...
Antes de os deitar, a roupa fica preparada, em cima da cama, para o dia seguinte. Tenho de ver se chove ou se faz sol, se está frio ou nevoeiro...porque no dia a seguir não estou lá, não tenho direito a ajustes de última hora. À hora que o pai os acorda já eu estou a chegar ao outro lado do rio. Não tive direito a bons dias, fiz tudo quase às escuras, com o mínimo de barulho possível, saí sem aqueles braços à volta da cintura e sem aquelas bochechas terem tocado nas minhas.
Ao fim do dia, chego com os minutos contados para fazer o jantar, porque afinal, as crianças não podem comer às tantas e ainda há os banhos para dar e a história para ler (que tantas vezes fica para trás, porque eles não conseguiram fazer tudo à velocidade que programámos e acaba por ser vestir o pijama e cama). E depois aquele egoismozinho de querer estar no computador, ver um filme ou outra porcaria qualquer e os poucos minutos que tinha para estar com aquelas criaturas vão-se e no dia a seguir é tudo igual e chego ao fim da semana, igual às outras todas, sem o senso de que espremi todo e qualquer instante para os cheirar, abraçar, beijar...(e não estou a dizer que não o faço, mas não chega)
Atropelam-se nas palavras para nos contar as coisas e nós sempre, despacha-te, vai lavar os dentes, agora não dá, faz o que te estou a dizer, não ouviste?
Que raio!
Muda! Reinventa! Substitui! Acrescenta! Adapta! Pára! Acorda! Reage! Muda!