Ali estive, quase uma hora com as miúdas...na sala de espera. A alegria delas contrastava com o meu pesar interior, mas consegui manter-me forte, dar sorrisos e fingir que estava tudo bem.
A minha afilhada tem uma coisa boa, típico de adolescente, nunca lhe falta assunto. Falou, falou e ajudou a que não houvessem aqueles minutos incómodos em que o silêncio fere.
Percebi que não gosta que a mãe apareça lá em casa, pelas palavras amargas que, do alto dos seus 12 anos, proferiu: - não faz nada de jeito, mais valia não vir...
Falou-me da escola, da viagem ao Zoomarine que se aproxima: - eu sei que agora estamos mal de dinheiro, mas o avô já me disse que posso ir...
É assim, crescer à força, aprender o que se tem que aprender, mas a mim doeu-me, aquele banho de realidade. Vivo demasiado para a minha bolha...tenho que sair muito mais de mim, dar...
- hoje fiz uma canja para o almoço, daquelas da Knorr, mas fica muito saborosa! e o avô fez amêijoas, comi taaaaanto...
Perante o facto incontornável de que não a deixariam ver a avó a B. (irmã mais nova - 4 anos) protestou:
- quero ir lá dar um beijo à avozinha, hoje é dia da mãe...
E eu engoli as lágrimas, para não deixar cair a máscara.
Não as contive mais tarde, após sair do quarto.
Ninguém deveria ter de sofrer assim...ninguém. Está toda ligada às máquinas, tubos por todo o lado, geme de cada vez que inspira.
- Tudo me pesa...ainda conseguiu dizer-me...
E eu saí minúscula, dormente, com as lágrimas que consegui chorar.