Normalmente não falo do que me atormenta. Porque na verdade os pensamentos vêm ter comigo, mas eu não os alimento. Mas eles cá andam. Não sou diferente de ninguém.
Fez, há dias, um ano
desde o assalto à nossa casa. Um ano. E ainda hoje o meu, já de si, sono leve se desperta em sobressalto com algum ruído fora do comum. Será que a porta ficou bem fechada? Será que?
Uma das coisas que se cimenta, aos poucos, na nossa vida de adultos e que no fundo torna tudo tão cru, é a morte. Odeio a morte, de morte. Depois de ser mãe ainda me adensei mais nesta coisa que parece que paira sempre sobre a nossa cabeça, para onde quer que a gente vá.
Não vou dizer que me tira o sono, mas invade-o mais vezes do que gostaria. Antes de ir de férias, os pensamentos de todas as possíveis ameaças à minha felicidade surgem sempre, a conta gotas. As piscinas, viajar de carro....e mais...
Vejo tanta desgraça a acontecer a boa gente, que penso, que raio faço eu, para merecer estas poucas boas coisas que tenho? As mais importantes...os meus, a saúde, a vida...a oportunidade de continuar...
As imperfeições deste mundo agigantam-se em nós...é o que mais detesto, nisto de ser crescido.
Mas como mãe, tenho de os largar ao mundo que temos, é nele que têm de se fazer homem e mulher, aprender, amar, brincar, chorar, rir...tenho de os soltar aos elementos. Porque nada pára, à espera que as minhas inseguranças se calem. E só quando me tornei mãe percebi que amar é isto. Correr riscos todos os dias. Correr o risco de perder.
E tenho a minha fé...o meu Deus...real...e os medos existem, ainda assim. Pergunto-me como será mil vezes mais vazia e angustiante a vida de quem não se aquece com a fé, de quem não se alivia nela.
E pergunto-me, em tantos momentos, se a fé me fará corajosa, caso nalguma altura infame a vida me pregar alguma rasteira.