Às vezes a minha mente é como uma caixa vazia onde se agitam ideias, palavras, que batem de um lado e do outro dos limites deste cérebro, até saírem, mais ou menos coerentes...ou não.
Faladas, escritas, num olhar ou num silêncio qualquer.
Estas tinham de sair hoje. Até porque a humildade é coisa boa para ser dita no dia do teu aniversário.
Este é sempre um dia de gratidão a Deus, como o são todos os dias de aniversário daqueles que amamos muito (como o são, aliás, todos os dias em que acordamos com vida).
Na verdade, o que eu queria dizer era que quando nasceu o teu irmão, eu estava certa que ia ser uma boa mãe, cheia da autoconfiança de quem nunca se tinha metido numa destas antes, mas que sabia exactamente o que estava a fazer.
E devo afirmar que, nos primeiros meses foi duro. Mas, contra tudo o que se previa, o rapaz acalmou os ânimos e cresceu de forma tranquila a partir daí. Para todos os desafios eu arranjava caminhos e estratégias simples a que ele respondia sem grandes surpresas ou imprevistos. As chamadas de atenção resultavam, a minha firmeza também, o que eu tinha aprendido, a juntar ao que então intuía, enquanto mãe, funcionava e eu achava que tinha encontrado a fórmula milagrosa para a educação da minha prole.
Se calhar subi muito alto, nesta coisa de ser mãe. Tantas vezes ouvi, "como é que fazes?", "como é que consegues?" "Ele é tão assim e assado..."
E eu sorria, de orgulho pelo meu petiz, que era tão atinado, dentro das travessuras normais da idade. Mas o que é certo é que isso também me massajava o ego...aquele pedaço tão traiçoeiramente humano que temos cá dentro e que, às vezes, nos engana tanto...
Depois, nasceste tu. Bebé tranquila, nada chorona, satisfeita com o que fosse, desde que houvesse movimento nada te aborrecia. E o meu ego mais uma vez a dizer-me baixinho (és inata miúda, nasceste para isto, a fórmula volta a funcionar).
Mas...e há sempre um mas, o meu ego, aquela coisa que vive em nós e não se vê, depressa compreendeu que a história era outra, foi só esperar que começasses a andar. E quando começaste a perceber que conseguias comer sozinha?? E quando encontraste palavras para dizer o que já te devia ir aí dentro dessa tua caixa, igual à minha, com ideias fervilhantes que se agitavam sem eco?
Pois é...esta tua humilde mãe, que te fala agora, entendeu rapidamente que a fórmula não era milagrosa. Que a fórmula se compõe de muitos revés e de experiências novas. De muitos embates em muros de betão, quando pensamos ter encontrado uma porta.
Deus enviou-te filha, para que eu percebesse que não sei nada e que o que sei é a Ele que devo. E que em caso de dúvidas é com Ele que tenho de contar.
És a âncora do meu ego, que o puxa para trás, cada vez que ele acha novamente, o tolo, que sabe mais do que sabe, na realidade.
E isto cansa...esta coisa da âncora, e estica as cordas que nos amarram aos dados adquiridos e às vezes dói um bocadinho. A ti e a mim.
Mas no meio das encruzilhadas e lutas que vamos travando, Deus também te fez com um sentido de humor particular que tantos momentos hilariantes já nos proporcionou, momentos que não trocaria por nada deste mundo.
Às vezes queremos à força filhos exemplares. Mas na verdade, isso não existe, e eu percebo hoje, depois de ti, o esforço diário de Deus para comigo.
Que eu saiba sempre amar-te com igual tenacidade e desprendimento, mesmo quando a minha fórmula e o meu ego caírem por terra.