A hiperventilar para dentro de um saco de papel

Pode parecer ridículo mas, isto da viagem está a mexer tanto comigo que já pensei se não escreveria um texto qualquer de desejos post-mortem, à laia de testamento sem a parte burocrática e legal.

Não vivemos a pensar que nos vai acontecer alguma coisa, até porque não se morre só a andar de avião, mas o que é certo é que é uma coisa que potencia estes receios em mim. 

O "e se..." e a parte control freak que há em mim, que quer ter tudo mais ou menos organizado na eventualidade de uma fatalidade, fazem-me pensar nestes devaneios.

Aperta-me tanto o coração a possibilidade de pensar que os meus filhos nunca viriam a saber o quanto gostava deles e quem eu era de verdade. Isto é coisa séria. Pensei deixar escrito que este blog tem de ser transformado em livro e entregue a cada um deles quando fizessem 18 anos. Que deveria ficar escrito algures que a mãe gostava mais deles que de chocolate e olhem que é coisa difícil...
Deveriam ser entregues aos cuidados dos meus pais. Mais ninguém, senão eles, poderia cuidar deles como eu.

O meu vestido de noiva ficaria para a minha filha [que se casasse com ele ou fizesse um tutu com brilhantes].

O meu filho ficaria com a Bimby, pois palpita-me que gostará mais de cozinhar que a irmã.

A casa deveria ser alugada para que um dia pudesse ficar para eles.

E é isto. As coisas materiais que tenho de valor (nem que seja sentimental) são estas. A minha casa, o meu blog, a minha Bimby e o meu vestido de noiva. 

Levamos tão pouco desta vida, não é? As minhas maiores riquezas são eles e é por isso que deixá-los para trás tornou o avião num monstro tão assustador. De repente, não vamos estar todos no mesmo plano e isso quase que me sufoca. Vou respirar, respirar fundo e pensar que vai ser bom, vai passar depressa, o suficiente para eu sorver tudo de bom e voltar depressa para os dois pares de braços mais amorosos do mundo inteiro.

p.s.: faltam 2 dias...