Depois do dever cumprido

26 de fevereiro de 2013

Saio do trabalho. Sinto o vento frio a tocar-me nas arestas do rosto. O passo é sempre acelerado. Desce escadas, sobe escadas. Passo acelerado de novo. Tantas caras que se repetem naquela passadeira, dia após dia. O mesmo velhote de olhar vazio, que espreita pelo vidro da porta do prédio mas que nunca se atreve a sair. O sinal está verde. Deslizo até ao comboio. Quando finalmente respiro fundo e me sento no lugar do costume, faço de mãe. Ligo às crianças, para saber se já fizeram os deveres, se o dia correu bem. Espero que o "estou a caminho" os impeça de fazer disparates e de comerem a reserva de bolachas que temos na despensa.
Depois volto a descontrair, coloco os meus phones e naquele instante fecho os olhos, deixo-me levar pelo ritmo da música e pelo sol que, finalmente, me acompanha no atravessar da ponte para a outra margem.
Quando o sono já está quase a levar-me a melhor, forço-me a abrir os olhos. Hora de acelerar outra vez. Ligo novamente o modo mãe, desta feita para comprar o que faz falta. Pensar rapidamente no que fazer para o jantar, pão, os cereais já acabaram. Turbilhão de gente. Fila para pagar. Subir escadas a correr. O metro não espera por ninguém. 
O sol ainda não se escondeu quando percorro a última parte do percurso. O frio gela-me os dedos, tanto, que nem sinto o peso do saco a vincar-me os dedos. Sigo como se não houvesse mais ninguém à minha volta e trauteio, timidamente, as músicas da banda sonora da minha vida, já não vou acelerada, até me esqueci que já tenho filhos e que o fogão está à minha espera, e que há roupa para dobrar e outra tanta para arrumar. 
Sorrio, e o frio já não me gela as bochechas. Os liláses e os rosas de fim de tarde acompanham-me até à porta. Quase que danço os passos ao som da música, até casa. 
A porta abre-se. O fogão, a roupa, os filhos, as compras. Respiro fundo, estendo 10 saquetas de cromos a um miúdo para lá de contente, pouso a mala, beijo as bochechas da minha miúda, sempre pronta para meiguices. 
- tenho fome, mãe. Posso comer bolachas?
Sento-me ali a colar cromos e a virar páginas e a debitar nomes de animais. O "meu" Sam Cooke já tão longe. Cumpriu a sua função de me lembrar que é bom ser eu, mesmo nos dias em que ser eu me cansa.

Praia rima com gelado

24 de fevereiro de 2013




Muito frio, muito sol. Gosto destes dias de Inverno, que se tornam ainda melhores junto à praia. 
A Diana disse:
- mãe, há tanto tempo que não sentia a areia nos pés. Que alívio!
É um bocadinho isto, uma aflição adormecida pelo frio sempre desejosa de areia e de mar. Só quem vive junto à costa sabe o que isto é.

Masoquismo, Insegurança, Altruísmo ou Tudo junto

20 de fevereiro de 2013

A melhor amiga da minha filha foi aquela que a gozou quando ela cortou a franja.
A melhor amiga da minha filha é aquela que quer mandar em todas as brincadeiras, que diz ser a melhor e a mais bonita da sala.
Eu, que nunca na minha vida tive paciência para que mandassem em mim ou me diminuíssem, tenho dificuldade em perceber esta relação entre as duas.
Ontem a conversa foi:
- mãe, não quero levar essa camisola polar, porque me faz parecer gorda.
Isto já com vontade de armar a birra, choradeira e afins (a sério, aos 6 anos???).
Disse-lhe que as camisolas são quentinhas e bonitas, e que ela tem 6 anos, não tem de andar preocupada em parecer gorda, porque está muito bem.
As conversas não se fazem só de palavras. Vale-nos a comunicação feita por olhares e silêncios. As mães sentem certas coisas e eu senti que aquilo não era uma preocupação genuinamente dela.
- quem te disse isso? Quem disse que parecias gorda com as camisolas polares? Isso não é uma ideia da tua cabeça!
Silêncio. Olhar triste. Não precisei de resposta. Dei-lhe um beijo de boa noite e ficámos por ali.
Hoje, no telefonema matinal habitual, encorajei-a a não se deixar abater por tudo o que os outros dizem e ela lá confessou que tinha sido a amiga que lhe tinha dito aquilo. 
Incentivei-a a brincar com outras meninas, que aquela não é a única amiga que existe e que deve dizer-lhe que ela está a ser má ou então ignorá-la.
Acabou por dizer que cada menina tinha o seu grupinho de brincadeira e que ela brincava com a B., a tal melhor amiga. E depois, a afirmação final:
- se eu não brincar com a B., com quem é que ela vai brincar?
E eu fiquei meio sem saber o que dizer...talvez haja algum motivo para ninguém brincar com ela para além da minha filha. Ninguém gosta de autoritarismo e pretenciosismo. A minha filha, pelos vistos, prefere sofrer com isso do que ir em busca de novas amizades. Ou então é generosidade a mais...acho que vai ter de aprender sozinha.

Jantar de comemoração

17 de fevereiro de 2013


Já foi há 17 anos que decidimos que queríamos fazer parte da vida um do outro. Éramos uns miúdos. Têm sido 17 anos de crescimento enquanto pessoas, e enquanto casal. Há mais de 10 que partilhamos o mesmo espaço, há mais de 8 que partilhamos esse espaço com os frutos desse amor. 
Como digo sempre, é o trabalho de uma vida. Ainda não vai nem a meio, esta viagem. Continuamos comprometidos e empenhados para que resulte, para que nos realize, para que nos faça felizes. 

Sobremesa da preguiça

15 de fevereiro de 2013



1 pudim Mandarim, 1 pudim Boca Doce de morango e 1 pudim Boca Doce de chocolate.

Morangos e Chocolate rimam com amor

14 de fevereiro de 2013




O par perfeito.
Todos os dias são dias de amor, hoje foi só mais um. No sábado será outro dia especial, pois assinalamos a passagem de 17 anos sobre o dia em que tudo começou. 
Claro que estes morangos duraram muito pouco, até porque ao nosso amor se juntaram mais dois, que por sinal gostaram muito deste petisco. Quem é que os pode censurar!

Das saudades

13 de fevereiro de 2013

Não é que não adore ser mãe de família e ter chegado aos trintas casada e a morar numa casa minha.
Mas tem dias que batem umas saudades da adolescente em mim, que partilhava o quarto com a irmã, que dizia parvoíces, sem se preocupar se dava um bom exemplo a quem tinha nascido de si...que ouvia a Cidade by Night enquanto suspirava de amor.
Batem umas saudades da janela de onde se via o sol a por-se sobre o rio, das ondas que me adormeciam. Saudades de falar horas ao telefone, do meu pai me ralhar por passar muito tempo no banho, da comida aparecer feita na mesa sem que eu me chateasse com isso. 
Saudades da miúda que escrevia poesia e cantava alto e bom som com os phones nos ouvidos e dançava sem se preocupar com o resto do mundo.
Saudades da inconsequência, da liberdade, do futuro por escrever. Saudades de quando queria tudo o que tenho hoje.
A vida foi tão doce. Tempos que não se repetem...como os que vivo hoje e dos quais vou sentir saudades também. 
Mas hoje era disto que precisava. Hoje é disto que sinto saudades.

Carências e medos

13 de fevereiro de 2013

A Diana está a atravessar uma fase de crescimento em que a sentimos muito carente e temerosa. 
É o medo "da noite", como ela diz, engraçado que não diz que tem medo do escuro, e a necessidade quase constante de dizer que sou fofinha, de me dar beijinhos e abraços. Um "quero a mãe" a toda a hora, para tudo. Passei a tomar banho com ela e tudo, para termos um momento nosso, de maior proximidade.
Eu confesso que não sou muito dada a manifestações afectivas exageradas. Nunca gostei que estivessem sempre a dar-me beijos ou abraços, sinto-me como que sufocada e incomodada. O que é certo é que ela sente isso. E pergunta-me muitas vezes se gosto dela. [sublinho que é mesmo uma coisa exagerada, porque eu nunca lhes nego mimos, mas tenho tido momentos em que chega a chatear, mesmo] 
E eu fico tão triste, porque se há coisa da qual ela não deveria duvidar era do meu, do nosso, amor por ela.
A verdade é que, de uma mãe muito presente a todas as horas do dia, passei a só estar com eles à hora de jantar e deitar. Isso entristece-me, não nego. Sinto falta de estar com eles ao acordar, nas rotinas matinais. Talvez seja por esta razão que ela anda assim, descompensada, da mesma maneira que eu, com a diferença de que sei controlar as minhas emoções de outra forma. Não sei. Estou simplesmente a adivinhar.
Espero encontrar formas de a fazer sentir mais segura e mais amada, no pouco tempo em que estou com ela.

Filhos de férias

11 de fevereiro de 2013

Este ano não houve direito a tolerância de ponto nem a "feriado" de Carnaval, pelo que as crianças ficaram com o pai, que tirou 2 dias de férias para ficar com eles, já que as pausas escolares não obedecem a tempos de crise. 
Eu lá me obriguei a cair da cama às 6:30, deixando as outras 3 partes de mim no silêncio da manhã e no calor dos lençóis.

This year we had no days off or Carnival "holiday", so the children stayed with dad, who took 2 vacation days to stay at home with them, since school breaks don't obey these times of crisis.
I forced myself to get out of bed at 6:30 am, leaving 3 others parts of me in the silence of the dawn and in the warmth of the sheets. 

Somos ricos de amor / Rich with love

9 de fevereiro de 2013


Podem contar-se tostões para tudo, mas esbanja-se o amor. Dá-se, troca-se, empresta-se, recebe-se...multiplica-se. 
Um bem que se mantém em movimento, cresce, transforma-se, engrandece-se. 
Somos ricos por ter avós que brincam, que mimam, que se envolvem na vida deles. Que descem ao nível dos nossos filhos para os fazer felizes. Agradecemos muito a Deus por os termos na nossa vida.

We can count the pennies for almost everything, but we misspend love.  We give it, we trade it, we lend it...it  multiplies. 
An asset kept in movement, it grows, tranforms itself, it gets bigger.
We are very fortunate to have grandparents that play, pamper, and get involved in their lives. Who get down to their level to make them happy. We thank God for having them in our lives.

Sábado / Sabbath

9 de fevereiro de 2013







É um dia abençoado. Hoje esteve sol e pudemos ir ao parque, respirar ar puro, sentir o cheiro da relva acabada de cortar, ouvir os melros e dar pão aos patos. 

It's a blessed day. The sun was shining today and we went to the park, to breathe some fresh air, we smelled the freshly cuted grass, listened to the blackbirds singing and fed the ducks.

Fazer de conta / Make-believe

8 de fevereiro de 2013





Uma Capuchinho Vermelho e um Robin dos Bosques.
Confesso que não gosto do Carnaval, mas eles gostam de brincar ao faz de conta neste dia, com direito a roupas especiais, especialmente na escola. Tento sempre que escolham personagens engraçadas e sem maldade.

A Red Riding Hood and a Robin Hood.
I must admit I don't like Carnival, but they enjoy playing make-believe on this day, particularly with special costumes, at school. I always try to make them pick nice charaters, with no malice.

Bolo de chocolate / chocolate cake

8 de fevereiro de 2013




Há poucas coisas, quanto a mim, que não combinem com chocolate. 
Mas com frutos vermelhos...ah...maravilha. 

There are few things, I think, that don't match chocolate. 
But with berrys...ah...wonderful. 

Dois miúdos gulosos e esfomeados chegados da escola, atacaram o tacho da ganache.

Two piggy and starved kids, just about when they arrived from school, attacked the ganache pot.

7 anos de sobrinha

6 de fevereiro de 2013

Não foi ela que me atribuiu o título de tia, mas é a minha única sobrinha (de resto, só tenho rapazes). 
Diz que a nossa relação começou aqui. Todo o universo feminino que tinha chegado à família através dela, ganhou um sentido ainda maior quando, 3 meses depois dela ter nascido, eu soube que também eu ia ter uma menina. 
Sei que não sou a tia ideal, que deixa fazer tudo, mas isto acontece porque não sou capaz de olhar para eles como apenas meus sobrinhos. Sou para eles o que sou para os meus filhos. Exigente, pouco condescendente. Talvez um dia ela perceba que isto não é por ser chata ou por gostar menos dela, antes pelo contrário. 
Eu sou muito control-freak, eu sei disso, mas também sou um coração de manteiga, se souberem tocar as notas certas. No fundo, as relações entre mulheres nunca são fáceis e lineares, mas julgo que não há relações mais fortes e duradouras que as relações familiares no feminino. 
Isto tudo para te dizer - Parabéns, miúda! 
Que a tia te veja soprar muitas mais velas, sempre feliz e que cresças com um bom coração.


Para a minha sobrinha

5 de fevereiro de 2013


Há coisas que se fazem com sacrifício. Hoje não era um daqueles dias em que estivesse capaz de fazer isto. Mas fiz. Espero que ela goste.

Drama Queen

3 de fevereiro de 2013





E eu, que sou intransigente com amuos e birras, começo a aprender a deixar a minha intransigência de lado, porque às vezes basta apenas um ataque de cócegas, um abraço, para desfazer a zanga do outro lado. 
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