Memórias

7 de outubro de 2012

Os objectos têm essa maravilhosa capacidade, de nos fazerem viajar no tempo, para momentos únicos impossíveis de reviver. Por impossibilidade de voltar a alguns locais, ou pura e simplesmente porque já não podemos ter 5 anos outra vez. 
Eu lembro-me das férias que passávamos na casa dos meus bisavós. Em plenos anos 80 não havia cá dinheiros para uma família de quatro ir viajar para locais paradisíacos. Nunca fomos gente de praia, mais de campo, é verdade. Era um mês que se passava ali, para os lados de Portalegre, quase na fronteira com a Beira Baixa. O calor apertava em Agosto. Eram a cigarras, o coaxar das rãs nos tanques, os feijões a secar em cima da serapilheira, a casa de banho que não tinha autoclismo, a cozinha que tinha chão de terra batida...
Havia um único telefone na aldeia, o do café. Sentia-me importante por ir buscar os ovos às galinhas, mesmo que as borboletas na barriga evidenciassem o nervoso, a dizer-me que se calhar podiam picar-me, mas nunca daria parte fraca. E lá ia, direita e firme, sem vacilar. Correu sempre bem. Ao fim das refeições, sem pressas, lá ficávamos a ver a avó e o avô a migar tudo o que podiam dos restos do almoço ou do jantar para fazer a lavagem para as galinhas. 
À tardinha, quantas vezes me enfiei no tanque com a minha irmã, para um banho refrescante, debaixo da sombra da romãzeira. O mesmo tanque que servia para lavar e esfregar a roupa, que a avó nunca teve máquinas para a ajudarem em nenhuma tarefa doméstica. 
O bisavô, sentava-se no muro ao pé do portão da cozinha, com um canivete, um pedaço de pão numa mão e um pedaço de toucinho na outra e era o jantar dele, cortava de um e de outro, à vez, até estar satisfeito. Os olhos azuis e o sorriso malandro. Tive bisavós até aos 16 anos. Um privilégio...
Lembro-me de ir regar a horta, com as cabaças da água amarradas num pau, na ponta. Descíamos-las até ao poço e depois num movimento rápido deitava-mos a água nos vegetais. 
Ao pôr-do-sol regressava o pastor com as ovelhas e nós corríamos ao soar das campaínhas que elas traziam ao pescoço a tilintar. Naquele caminho estreitinho que mal dava para nós duas passarmos ao mesmo tempo, espreitávamos a sua passagem. 
E é isto. O tanque da fotografia não é o da minha bisavó, mas as memórias que me trouxe são preciosas.

6 comentários:

  1. Passei por muitos momentos desses na terra dos meus avós. Dar de comer ás galinhas. porcos, e coelhos. Sair ainda de madrugada para o monte e levar as cabras a passear...
    Ai recordações tão boas, olhar os pastos verdejantes, apanhar amoras silvestres e comê-las sem serem lavadas, também tomei banho no tanque e em riachos, com pedras escorregadias. Só ia de sandálias calçadas, dava-me nojo sentir os limos das rochas. Enfim...já voltei a trás um bom bocado.
    Fazes-me sempre recordar momentos maravilhosos.

    Beijocas

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  2. Fizeste-me recordar os meus tempos de menina também :)

    beijocas

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  3. Que post maravilhoso!

    Lá em casa temos um tanque de pedra, compramos quando casamos :)

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  4. de lágrimas nos olhos... saudades...

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  5. tive tantos momentos tão semelhantes e também tão bons... saudades do tempo de criança, muitas...

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Obrigada pela vossa visita!

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