Filhos

3 de agosto de 2011

Isto de se tomar consciência de que tudo o que fazemos, dizemos e somos influencia estes seres que pusemos no mundo é coisa para nos deixar estarrecidos, tal é a responsabilidade. 
Na maior parte das vezes é algo que não nos vem à mente a toda a hora, mas depois há momentos em que somos como que atingidos pela realidade e ela nem sempre é a melhor.
Eu sei que tenho dois filhos muito diferentes. A família e os amigos também sabem. O problema é quando os comentários e conversas vão surgindo, e os miúdos vão ouvindo e interiorizando ideias acerca de si próprios à conta disso. A mim me culpo por isto. E ainda bem que caí em mim. Não sou uma mãe perfeita, mas quero acreditar que sou uma mãe atenta e minimamente consciente. 
A Diana é uma miúda que, apesar de ser extremamente exuberante e expressiva, não verbaliza muito sobre sentimentos. 
Mas, de há uns meses a esta parte, sempre que a repreendo, seja por que motivo, responde-me com um desconcertante:
- mas eu só me sei portar mal.
Fiquei assustada com aquela resposta. Senti nítidamente que ela encaixou a ideia que se porta mal e que tem mau feitio, de tanto ouvir dizer isto mesmo. E por vezes nem fazemos comparações, nem manifestamos preferências, que é algo mais gritante, mas basta constatarmos factos sobre a sua personalidade à frente deles, para eles se sentirem diminuídos ou enaltecidos. E se a segunda é muito positiva a primeira não é, mesmo nada.
Aqueles comentários que fazemos tão vulgarmente, por vezes caem neles como ácido e vão corroendo. 
Desde esse dia que ela já me respondeu, a mim e a outras pessoas, da mesma maneira e fá-lo com uma entoação de tal forma definitiva e impotente que desconcerta qualquer um. 
Tenho feito de tudo para alertar as pessoas e para me emendar a mim própria. Quero que ela saiba que me orgulho dela e que ser diferente do irmão não é uma coisa má. Que portar-mo-nos mal ou bem é uma questão de escolha e não uma imposição do destino para uma coisa ou outra. 
Essencialmente, não quero que ela construa uma baixa auto-estima à minha conta.
Foi uma chamada de atenção para mim, por isso partilho.

4 comentários:

  1. sabes o que eu acho Raquel? que o que faz ser uma boa mãe é precisamente estes momentos de reflexão inferior e do conseguirmos ver onde falhamos, nos sentirmos tristes por isso, mas seguir em frente tentando dar sempre o nosso melhor. e tu acabaste de o fazer e estou certa que com muito carinho e mimo, e muitos reforços positivos que a Di vai deixar de ter isso interiorizado. vais ver que deixa de responder dessa forma. se deixa de se portar mal eu não sei, mas vai ver que vai dar menos importância a isso porque tu és uma excelente mamã! é mesmo uma realidade que eles absorvem tudo o que ouvem... connosco, há coisas que têm acontecido por causa da depressão da minha mãe, que por vezes, no estado em que está, chora muito e diz coisas que deve e que não deve em qualquer lado e à frente de quem quer que seja, inclusive, da neta. peço-lhe tantas vezes para tentar evitar isso, porque mesmo que ela esteja a brincar, está a ouvir e a gravar tudo e mais tarde, vem-me falar do que ouviu e isto, durante dias, noto que a perturba muito... não é exactamente a questão da Di, mas é comparável no sentido de assimilarem tudo o que ouvem. beijinho grande pela mãe que és!

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  2. Sim entendo o que queres dizer...uma vez mais, és uma mãe atenta!

    Bjs

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  3. O Diogo teve uma fase em que também dizia "mas eu só me sei portar mal" ou "mas eu não consigo portar-me bem" mas não acho que fosse pelo que tu dizes...acho que ele acreditava piamente naquilo e não tinha NADA a ver com a irmã. Depois passou-lhe porque ele cresceu ;)

    bjs :)

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  4. Eu acho que é difícil não fazer comparações. Podes não fazer conscientemente, mas fazes, e a Di faz as dela também.
    Obviamente que ser diferente do irmão não é uma coisa má e é claro que tens orgulho nela. Se calhar mostrar-lhe isso mais activamente seria uma boa ideia. Aqui na escola da Anna estão sempre a dizer-nos para ajudarmos a estimular o bom comportamento dizendo-lhe que fez bem, quando faz bem, e evitar dar demasiada importância ao mau comportamento. Eu vejo que muitas vezes a Anna porta-se mal de propósito porque sabe que temos de largar tudo para lhe dar atenção, mesmo quando não podemos. Enfim, é difícil.
    Mas é bom reflectir sobre estas coisas, e ser bom pai ou mãe tem muito a ver com a atenção que damos a estas coisas. Eu cá não sei se sou boa ou má mãe. Sei que a Anna é uma criança feliz e equilibrada. Maus dias temos todos, ela, eu e toda a gente. Os pais também se portam mal. É importante pedir-lhes desculpa quando isso acontece, para eles perceberem que nós também os percebemos a eles. Baixa auto-estima é uma coisa muito muito má. Se realmente achas que a Di tem esse problema, é importante ajudá-la.

    Beijinhos, amiga. Tenho a certeza que tudo se resolverá bem, precisamente porque és boa mãe ;-)

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