Revolução por um mundo de trabalho mais flexivel !

28 de abril de 2011

Já era chegado o dia de dizermos de nossa justiça. O dia é hoje. 
Já várias vezes me ouviram desabafar sobre este tema e de como é difícil, para uma mulher, conciliar trabalho fora de casa, com o trabalho doméstico e os filhos, que são a parcela mais importante de todas estas equações. 
Vou generalizar, porque todos sabemos que há excepções, por isso, as excepções que não se sintam melindradas nem incluídas.
Que, regra geral, as mulheres ganham menos que os homens, já é sabido. Que são penalizadas pelas entidades empregadoras depois de serem mães, por faltarem quando os filhos estão doentes, por precisarem de entrar mais tarde ou sair mais cedo um dia ou outro, também é do conhecimento de todas. Quem nunca passou por dilemas destes? Eu já.
Estive em casa 3 anos, após o nascimento do meu primeiro filho. Ainda dentro deste período resolvemos, eu e o meu marido, ter o segundo. Deste modo, dado que só planeávamos ter 2 filhos, pensava eu, ficaria mais livre e "empregável" quando resolvesse voltar ao mundo do trabalho. Enganei-me. As entrevistas, por si só, são descriminadoras e há perguntas pessoais que foram feitas, que me incomodaram de sobremaneira. Se era casada, se tinha filhos, se planeava ter mais, onde andavam na escola, como faria para os ir buscar caso o trabalho se prolongasse após o expediente, onde trabalhava o meu marido, etc...podia continuar. Isto é real. 
Acabei por ficar empregada numa empresa, onde até fui muito feliz, nestes últimos 3 anos. O horário era das 9h às 17:30h, melhor do que sair às 18h. Claro que passei sempre por momentos de stress e constrangimento quando precisava de pedir para ir com as crianças ao médico, quando tinha reuniões na escola dos miúdos ou quando tinha mesmo que faltar por doença deles ou mesmo minha, que isto de ficar doente, hoje em dia, já é mal visto. Ir trabalhar aos caídos cai sempre muito bem aos olhos do patrão. 
Sempre me senti insatisfeita e incompleta. Nunca convivi bem com a maternidade em part time. Sempre desejei trabalhar em algo a partir de casa. Algo que me permitisse a minha própria organização pessoal e doméstica. Algo que me desse liberdade para dar assistência à família sem me sentir quase criminosa. 
Fui despedida no fim do ano passado. Estava a contrato, quase há 3 anos, contrato de trabalho temporário que, na prática, são contratos que se renovam automaticamente a cada mês e que permitem à entidade empregadora dispensar o trabalhador quando lhe for mais conveniente. Dado que já existia no ar alguma pressão para passar a contrato directo com a empresa, o mais fácil foi mandarem-me embora "e tal, que os projectos eram poucos, a crise e tal". O que é certo é que sei que nem 2 meses depois já estava outra pessoa no meu lugar. É triste. Não há vínculos com o trabalhador. Nenhuns. E os meus vínculos com os meus filhos não podiam ser mais fortes. Aquilo que lhes dedico será sempre recompensado e valorizado. De muitas maneiras e nem todas elas visíveis a curto prazo. Estou em casa e é disto que preciso para ser feliz. Se gostava de ter um trabalho. Tipo tele trabalho? Maravilha. Adorava. Não conheço nada do género em Portugal. Os rendimentos fariam certamente muita falta, nesta fase do campeonato, em que não está fácil para ninguém, muito menos para uma família apenas com um ordenado e 4 bocas para alimentar. E não, não sou rica nem o meu marido ganha um chorudo ordenado.
Esta opção não é só para quem pode, por vezes é escolhida por pessoas como eu, que não podem, mas querem muito. E o que se perde compensa em dobro naquilo que se ganha em termos emocionais e familiares porque, por muito que as pessoas não queiram admitir, o que está a desmembrar a nossa sociedade, os jovens à toa, sem valores, as crianças problemáticas e deprimidas, a violência nas escolas, a falta de autoridade dos pais, tudo tem uma só raiz. A família passou para 2º ou 3º plano e uma coisa assim só poderá continuar a penalizar-nos a todos, em proporções que nem nós imaginamos. Eu sou pela maternidade a tempo inteiro e pelo trabalho a partir de casa. Infelizmente não há opções para as mulheres nesta área. É terreno virgem. Mas tenho esperança que Portugal, como tantos outros países com uma cultura que trata muito melhor as crianças do que a nossa, possa ainda abrir os olhos a tempo de eu desfrutar dessa hipótese.
E sim, a boneca está ali em cima com o propósito de dizer que nós mulheres, somos incríveis. :)

http://apanhadanacurva.blogspot.com/

20 comentários:

  1. tanto de mim neste texto. Tens tanta razão...

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  2. Infelizmente não posso dizer que acho exequível nesta altura tão dramática do panorama português.

    E posso dizer que trabalhar fora de casa, para mim, não é apenas uma opção. Consegui foi ter um trabalho em que estou muitas horas em casa.
    E conheço outros casos que também o conseguem. A minha cunhada, por exemplo, é economista e trabalha na função pública, das 9 às 15.

    Se dava para viver só do ordenado do marido se tivesse 2 filhos? Talvez. mas com 4? Impossível (dado que aqui, infelizmente, embora ambos quadros superiores eu ganho muito mais do que ele). A mim não me pagam uma exorbitância mas paga-me razoavelmente. A ele pagam uma miséria.

    Agora sinto precisamente essa questão na pele, na minha e na dos outros, basta olhar para todos os lados: somos memso descartáveis.

    É mau. Não é justo. Mas a verdade é que só não podemos nem devemos ser descartáveis para os nossos filhos.


    Ui... para primeiro comentário no teu blog excedi-me, não foi?

    :)

    Olá Raquel:)

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  3. E o que eu gostei de te ler!
    Tb eu adorava fazer algo do género...concordo contigo, pronto.

    Bjs

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  4. Obrigada por participares na "revolução", ja fiz o link ao teu post.

    Um abraço
    Carla

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  5. infelizmente nem todas podemos tomar essa decisão mesmo que seja o que mais desejamos. eu adorava estar em casa com os meus filhos e nada me daria mais prazer. trabalho não porque adoro mas porque preciso. sou a que ganho mais e não é sequer um bom ordenado. sou a única com um contrato efectivo e na função´pública, ou seja, sou que estou mais segura para assegurar as despesas caso venha algum despedimento assolar-nos. infelizmente à decisões que não podem ser tomadas com o coração mas com a razão. é precisamente pelos meus filhos que trabalho, para lhes dar o minimo de conforto e às vezes não chega. procuro ter qualidade de tempo sempre que estou com eles e sei que não sou perfeita mas sou a melhor mãe que sei ser e sinto-me muito amada por eles. é certo que trabalho a 15 minutos de casa e tenho um horário bonzito (9h-17h) mas trocava tudo para estar em casa com eles... mas nao posso.

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  6. Admiro-te TANTO amiga.
    Beijocas grandes

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  7. Concordo contigo a 100%. Mas admito que há famílias onde não se pode viver com um só ordenado.
    Um beijinho grande e obrigada por abrires o teu blog neste dia. Gostava de continuar a ler-te, mas se não puder ser, tudo bem:)
    Beijinhos:))

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  8. Bemmm já não entrava no teu blog há tanto tempo que nem imaginas... a ver se é desta que vos consigo acompanhar! Gostei muito do que escreveste claro :)
    Bj grande

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  9. Olá mãe dos kiduxos :)

    Concordo com o que li. E concordo muito com a última parte do post. Também acho que a família passou para um plano inferior. Muitas crianças de hoje crescem sem atenção. Até os avós, antes mais disponíveis, têm agora que trabalhar fora de casa e até mais tarde. Alguns pais não têm possibilidade de presenciar momentos tão importantes na vida dos filhos. Outros talvez nem se apercebam disso... As famílias estão sem tempo para si.
    Também estou em casa por opção, e gostava de estar a trabalhar, mas de facto, no momento, não nos compensa... Ainda me estou a organizar por casa :)

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  10. também eu gostava de ter uma maior disponobilidade de tempo para a minha filha. ser mãe a tempo inteiro não. sempre trabalhei, desde muito nova, ainda mesmo antes de terminar o meu curso já eu andava metida em alguns voluntariados que me davam um enorme prazer na área social... porque gosto imenso do trabalho nesta área, realiza-me e poder ajudar outras vidas, deixa-me feliz... no entanto, se pudesse escolher entre um part time ou um trabalho a tempo inteiro, escolhia um part time, sem exitar e mesmo que o ordenado descesse em relação ao que ganho actualmente. não pensaria muito... trabalhar de manhã e poder dedicar todas as tardes à Joana era um grande sonho... mas infelizmente, no pais em que vivemos, não existem estas possibilidades... há muito para evoluirmos nesta área... e é como diz a tua irmã, em muitos casos, não dá para agirmos apenas em função do nosso coração, infelizmente a vida está tão dificil que ter trabalho, eu acho que já é uma benção de Deus... depois é como digo sempre, tudo é também questão de organização, prioridades e escolhas. eu e o meu marido fizemos as nossas, definimos os nossos interesses e o que gostariamos de levar da vida... para isso, ambos precisamos de trabalhar. não temos luxos, não temos nada em casa que seja considerado de um valor enorme, temos coisas modestas mas com as quais nos sentimos bem e confortáveis. não gostamos de contar os tostões para chegarmos ao final do mês, é algo que nos deixa angustiados, dai que, eu, aguento o meu trabalho... e tu sabes que eu não gosto dele. não faz parte da minha formação, não é um trabalho social como gostaria que fosse, não mexe com crianças. o horário, para já, é das 9 às 17h30... podia ser pior e em principio, será pior brevemente, mas por nós, pela nossa filha e para lhe podermos proporcionar o que queremos, eu mantenho o meu trabalho até que um dia, ou me despachem, ou realmente me canse disto de vez, que trabalho mais violento psicologicamente, nunca conheci... mas essencialmente, é pela Joana que me vou ficando por cá, para lhe poder dar uma vida melhor, e é como diz a Kriz, o tempo que estou, pode ser menor ao que estão as mães a tempo inteiro, mas tento dar sempre o meu melhor nesses bocadinhos, ser o mais disponivel possivel, acarinhar e dar colo SEMPRE. A Joana é muito timida e demonstra alguma insegurança, mas é uma criança feliz e muito alegre e adora-me tal como eu a adoro a ela. isso para mim já me deixa tranquila sabes? mas sim, também eu adorava ter maior disponibilidade para ela... as tardes eram-me suficientes... se eram! e eu desejo que continues a ter a sorte que Deus te pôs nas mãos amiga e que estes ´novos projectos sigam sempre assim, para a frente, com êxito e sucesso porque mereces, és uma excelente mãe e toda a gente deveria poder fazer o que mais gosta, sem ter de penalizar filhos e familia e casa... eu admiro-te muito! beijinho!

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  11. Não poderia estar mais de acordo... no meu post, também falei que quem ganha mais com um part-time ou flexibilização de horários é mesmo a família, a educação... a sociedade.
    A vida às vezes tira com uma mão mas dá com a outra compensações muito maiores.
    Beijinhos

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  12. clap clap clap


    magnifíco texto amiga!

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  13. Agora fiquei a pensar :)...Como sabes babyes ainda não há por estas bandas, mas é um assunto que me faz pensar bastante. Eu saiu de casa ás 7:15 chego ás 20:00 na melhor das hipoteses, o Paulo sai ás 8h30 e nunca tem horas para chegar. Para teres uma ideia há dois dias que não o vejo. É certo que profissionalmente estamos muito bem eu estou com uma possição muito boa na empresa, e o Paulo também. Quando falo em ter filhos penso que a minha vida vai ter que mudar radicalmente, para mim seria impensavel deixar um filho no colegio até tarde e não estar com ele quando ele precisar de mim. Vai ser dificil, vai! Concerteza que vai! Nos dias que correm hoje é muito dificil a educação de um filho é preocupante! Sinceramente não sei como vou fazer, trabalho mais de 9 a 10h por dia quando não levo trabalho para casa. Se me perguntarem se o trabalho é uma das minhas prioridades? Não, não é, mas tenho a certeza que senão dedicasse tantas horas á empresa, neste momento já fazia parte dos numeros dos desempregados. É triste mas é a nossa realidade! Neste momento vejo o trabalho como um investimento a curto prazo! Tudo na vida é uma questão de prioridades, admiro bastante as mães a tempo inteiro e dou muito louvor aquelas mãe que trabalham o dia inteiro, e depois de um dia de trabalho chegarem a casa e ainda conseguirem dar tempo de qualidade aos filhos, á casa ou marido etc... Vivemos numa sociedade onde realmente o conceito familia está a desaparecer onde as crianças/ jovens crescem sozinhos sem valores e sem principios porque os pais não têm tempo para eles! É triste e muito preocupante!!

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  14. Sim, Cláudia, atenção que eu, quando falo da minha actual situação é em relação aquilo que faz sentido para mim. Não critico quem trabalha fora de casa. Agora, trabalhar 10h por dia e ser mãe, quanto a mim, é muito complicado. Os filhos ficam negligenciados e quem mais os influencia e educa não são os pais, por muita qualidade que tenha o tempo que lhes dedicam. Mas nunca julgo as opções de ninguém. Os meus filhos não são melhores nem mais perfeitos por eu estar em casa. O futuro a Deus pertence, mas eu tenho de sentir que enquanto mãe, estou a ser o melhor que posso e a fazer aquilo que o meu instinto me diz que é o melhor para mim e para eles. E isso não faz de mim melhor mãe. Faz de mim uma mãe tranquila, de acordo com os seus valores. Cada uma deve fazer o que acha melhor. Agora estou em casa, mas o futuro é uma grande incógnita.

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  15. Sinto-me priviligiada nesse campo...trabalho fora de casa e sempre que quero tenho-as ali ao meu lado. Dado ao facto de eu estar no mesmo colégio que as minhas filhas. Tenho um horário que me permite poder resolver o que fôr preciso (Tanto fora como dentro do horário de trabalho).
    Estou presente no crescimento e no desenvolvimento.Não me posso queixar nesse aspecto. Quanto ao meu ordenado nem vou comentar :0(

    Quanto a ti...e já te disseram é de admirar, uma grande Mulher, Mãe, corajosa, batalhadora, lutadora...uma filha de Deus, especial!!!!
    Sim qualquer pessoa sente orgulho em ti. A tua familia tem onde se orgulhar.
    És sensata, tens bom coração.
    E sim pensas muito bem. E o melhor da vida, era podermos estar a gozar a maternidade a tempo inteiro e os nossos maridos ganharem uma fortuna.
    Mas claro que precisava sempre de uma ocupação, um hobbie e...adquirir novos conhecimentos.

    Não mudes...beijinhos
    É verdade...um terceiro filho não estava fora de questão, pois não?

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  16. Nunca está, Ana.
    Mas filhos planeados não terei mais, com muita pena minha, até porque isto dos filhos é feito a dois e o pai não quer mais nenhum :)

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  17. Tu sabes que te admiro muito e que gosto da tua filosofia de vida, mesmo tendo a minha, diferente. :-)

    Depois da Mónica nascer, quando regressei ao trabalho, fui promovida. E na altura abdiquei de estar com ela em prol da promoção. Hoje arrependo-me. Trouxe-me regalias, é verdade, mas não sei se compensou...

    Quando engravidei do Afonso, deu-se um "clic" na minha cabeça e deixei de "dar o litro" como dava. E fui "despromovida". Não foi por ter engravidado (a rapariga que foi para um lugar que me estaria destinado estava grávida, tal como eu), foi mesmo porque dei a entender que a minha vida iria ser diferente dali para a frente.

    Hoje faço o meu horário (trabalho 7h30 por dia), e acho que consigo dar aos meus filhos o acompanhamento que precisam. Mas é como te disse de inicio, é apenas a minha filosofia de vida.

    Nunca pus a hipótese de não trabalhar, e neste momento com os encargos que temos com a casa que tanto queríamos, não daria nunca para deixar de o fazer. Além disso, ainda gosto muito do que faço. Apenas não me dedico a 200%, só a 100%. ;-)

    Um beijinho muito grande!

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  18. Tenho pena que assim seja para muitas mulheres...
    E felizmente sou uma privilegiada nesse campo. Posso faltar, posso estar com os meus filhos, posso chegar atrasada, posso dar mais um tempo à casa para compensar sem ser pressionada, pois faço-o porque quero. Adoro o que faço e onde estou é para mim a minha 2ª família, já lá estou à quase 15 anos é realmente não é mesmo de todo para toda a gente. Sou valorizada, sou compensada e muitas outras coisas, felizmente tenho muita sorte, se os meus filhos estão doentes se for preciso até me ligam a saber deles...enfim...é triste para algumas mulheres.

    Belo texto
    Bjs

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  19. «Mas tenho esperança que Portugal, como tantos outros países com uma cultura que trata muito melhor as crianças do que a nossa, possa ainda abrir os olhos a tempo de eu desfrutar dessa hipótese.»

    eu gostava muito de ter essa esperança mas quando vejo tanta gente da minha idade (30 e picos) a começar a subir por aí acima e a exibir a mesma mentalidadezinha de "capataz de fábrica" de há 30, 40 anos atrás, deprimo... :-S
    sinceramente creio que esta mudança, a acontecer, vai ter de ser forçada. e teremos de ser nós cá "de baixo", a fazê-la, pq os de lá de "cima" estão muito bem como estão.......

    e sim, somos incríveis :)

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  20. Estou a passar todos os textos para o blogue da revolução e aqui da-me erro. Podes enviar-me o texto para apanhadanacurva@gmail.com ?

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