- mãe, como é que se cuida de um filho?
- quando eu tiver os meus filhos e não souber o que fazer, tu vais ajudar-me?
- como é que tu sabes o que fazer? aprendeste com a avó, foi?
É assim desde que aprendeu a falar. A minha filha tem a especial capacidade de ter conversas complexas e filosóficas ao cair da noite.
Normalmente, quase em catadupa, lança as perguntas para eu não ter muito tempo para pensar...
E a única coisa que me ocorreu responder foi:
- tu vais saber o que fazer...vais ver.
- como, mãe?
- porque já foste filha.
(silêncio)
- e se precisares de ajuda, claro que a mãe te vai ajudar.
Grita o Gabriel lá do sótão, com a típica confiança masculina:
- não te preocupes, que a mãe deixa-te aquele livro que está lá em baixo dos mil conselhos para pais.
Lá tive de explicar que, embora os livros ajudem a lançar luz sobre alguns assuntos, não encerram em si a sabedoria e o improviso que nos traz a vida.
A maternidade não vem nos livros. Foi-se entranhando em mim, ao crescer, sempre que segurava os meus bebés de borracha e os imaginava de carne e osso, um dia.
Aprendi-a do outro lado da barricada, nos gestos desenvoltos da minha mãe, nos conselhos prontos do meu pai. Nos olhos de ambos. Dia após dia. Na orientação que recebi, aí ganhou forma a minha maternidade.
Mas nasceu com eles, isto de ser mãe. Estas duas pessoas pequenas.
E ando a aperfeiçoar a técnica há quase 10 anos. Nunca se chega lá, acho eu. À perfeição.
Mas como lia no outro dia, numa dessas citações que tanto gosto, o que importa não é destino, é a viagem.