Este sábado na igreja, na festa de homenagem às mães, pediram-me que descrevesse a minha. Fui apanhada de surpresa e normalmente a espontaneidade não me traz palavras perfiladas e definidas, alinhadas de forma perfeita com o meu pensamento. Gostava de poder ter dito mais e melhor.
É-me sempre mais fácil falar do meu pai, porque convergimos tanto, em personalidade. E porque talvez chocamos menos com o sexo oposto. Sou uma menina do papá...é um facto.
Enfim, para vos dizer que respondi, tão somente que, agradecia o tempo que ela tinha tido para mim e que eu hoje não tenho para os meus filhos.
A relação com a minha mãe não foi sempre fácil e em linha reta. Sob um certo ponto de vista fui uma criança perfeita (se é que isso existe). Mansa e obediente. Mas depois veio a pré adolescência, logo ali pelos 11 anos de idade. Pomos em questão tudo o que nos foi ensinado. A relação entre os nossos pais deixa de ser aquela coisa abstracta, que nos passa ao lado e passamos a compreender que isso do amor não é bem como a Disney nos vendeu. Ao fim e ao cabo, é a lamentável perda da inocência ideológica, o cair do filtro pueril entre nós e a vida. E a mais pura das verdades é que não é fácil ser-se a filha adolescente da nossa mãe. A minha mãe tem o seu feitio, eu tenho o meu e até conseguirmos encaixar estas duas peças uma na outra foi preciso a distância da separação física. Quando saímos de casa ocorre esse milagre da saudade que nos faz valorizar as pessoas de outra maneira e que permite a pais e filhos verem as qualidades com óculos de "ver ao perto" e os defeitos com óculos "de ver ao longe".
São estas lentes especiais que me deixam à vontade para concordar com o Rui Veloso quando ele diz que, "é mais o que nos une do que aquilo que nos separa".
São elas que me dizem que a minha mãe sempre foi uma excelente cozinheira, que foi uma mãe firme e dedicada, que sempre esteve presente, que à sua maneira sempre me amou e incentivou. Não fez tudo bem, pois não...mas eu também não faço. E essa é a irónica aprendizagem que todas as que são mães fazem, de uma maneira ou de outra. Vamos emendar alguns erros que achamos que os nossos pais cometeram (e vamos repetir outros tantos). Vamos fazer perdurar nos nossos filhos todas as pequenas coisas que eles nos ensinaram e que nos deixaram felizes. E vamos acrescentar uma pitada de quem somos a tantas outras frases, decisões e formas de educar. Quantas vezes não soamos exactamente como as nossas mães? Já perdi a conta a esses momentos... Casou aos 16 anos, deixou certamente tanto por fazer e realizar, teve-me com 19. Eram outros tempos. Cresceu ela própria comigo. Mas isso soube-o depois, sei-o agora.
O bom e o menos bom, ambos me ensinaram alguma coisa.
No fim, o que sei é que, na sua imperfeição humana, me ama e me quer bem. Tal como eu, na minha imperfeição, a amo a ela.
Mais do que mãe e filha, somos pessoas. As pessoas desiludem-se umas às outras. Mas é este amor, que sobrevive às desilusões que dividimos, que constrói os laços que dificilmente a vida quebrará.
Olha mãe, podia ter dito só: - amo-te...obrigada.
Mas fazer resumos nunca foi o meu forte.