Há pouco mais de uma hora, fui almoçar.
Normalmente não vou sozinha, mas hoje calhou não ter companhia.
Estava já na direcção de um sítio para comer qualquer coisa rápida, quando disse para os meus botões: - não, vou ao do costume, ao menos já sei que sou bem servida e não pago muito. E voltei para trás.
Estava prestes a entrar quando fui abordada por uma mulher. Falava muito baixinho, tinha sotaque. Tive de me aproximar dela para poder perceber o que dizia.
[pensei logo...mais uma a pedir dinheiro e eu não tenho aqui moedas]
Mas não. Disse-me que estava grávida e que já não comia uma refeição há quase quatro dias. O meu coração quase parou. Pediu-me que lhe pagasse uma sopa.
Pus a minha mão sobre o seu ombro e entrámos.
Comeu uma sopa, uma tosta e uma salada. Quando fui ver se estava bem, agradeceu-me e disse-me que não tinha nada para dar de jantar aos filhos. Que estava separada do marido. Que estava a fazer uma formação para ver se conseguia arranjar um trabalho.
Eu já nem tinha fome. Pedi que lhe embrulhassem sopas e dois pratos do dia, para ela levar para os filhos.
Agradeceu-me muito.
Não fiz nada de mais...e fiquei tão, mas tão agradecida por ter podido ajudar. Não sei se a verei outra vez. Mas sei que a incluirei, e aos filhos, nas minhas orações. E que a primeira abençoada nesta história fui eu.
O objectivo de escrever isto não é o de me vangloriar por ter ajudado, mas o de incentivar todos os que lêem a estarem abertos a fazer o bem.
Nem sempre estamos. Andamos tão embrenhados no rodopio que é a nossa vida que nem prestamos atenção.
No outro dia houve um velhinho que me fez sinal e eu ia tão depressa para apanhar o metro que pensei que era mais uma pessoa a pedir e disse-lhe: agora não posso! quase sem olhar para trás.
E depois ainda pude ouvir ao longe o senhor a praguejar:
- mas eu só quero saber que horas são!
Pensei, BRUTA!!! Porque é que não paraste!
E é isto gente. Temos que parar mais vezes.