Das adoráveis criancinhas

Ontem deu-se um pequeno motim por causa de uma bola de futebol (mas poderia ter sido por inúmeras outras coisas).

A bola estava para lá, imóvel, no chão da sala. Ele deitado no pouf, com ar compenetrado a fazer zapping, ela deitada no sofá, a olhar de esguelha para a tv. Tudo na paz.

Em segundos (mas é que em segundos, mesmo) ela levanta-se, pega no raio da bola e vai com ela debaixo do braço para a cozinha. Eis que ele, qual palhaço a saltar de uma caixa surpresa, vai direito à irmã e diz que a bola é dele, ela diz que ela é que a foi buscar primeiro, ele começa a tentar arrancar-lhe a bola dos braços, que entretanto já estavam a abraçar a dita com todas as forças e está o baile armado.

Eu intervenho com diplomacia, ainda num tom de sabedoria e calma,  faço o discurso políticamente correcto então-não-vês-que-a-mana-quer-brincar-um-bocadinho-tu-até-estavas-a-ver-tv-vá-diana-brincas-um-bocadinho-e-depois-dás-ao-mano-ou-então-jogam-os-dois(yeah right, what the hell am I thinking). Ele afasta-se um pouco, mas continua à espera, ela faz o ar de não estou nem aí e continua a dizer que ela é que foi buscar a bola e que quer jogar sozinha (meaning andar a passear-se pela casa, com a bola debaixo da asa). Eu enervo-me, digo-lhe a ela que está a ser egoísta, e a ele que está a ser embirrante, ela atira a bola com toda a força e grita - pronto! toma lá esta porcaria (sim, sim, 3 anos, quase nos 4), eu quase lhe assento as mãos no lombo, mas conto até 10 e eis que o raio do puto, depois daquele fandango todo, quase sem olhar para mim, diz - ah, já não quero a bola, podes ficar com ela e senta-se novamente no pouf a ver os desenhos animados que entretanto tinham começado. 

Na cozinha, longe, viro-me para o Pai e digo:

- tu já viste isto??? quase bati na irmã e depois...

Muito irónicamente, disse-me:

- são tão queridos, os nossos filhos.