Semana a pensar no casório de um amigo querido. Não me refiro a mim, atentem bem. É verdade que sou uma sentimental chorona de primeira apanha, e que adoro uma boa história de amor, mas o casamento de alguém não seria coisa para me tirar a paz de espírito e o sono.
Já a minha filha a martelar-me o juízo é outra conversa:
- não te esqueças de pedir a máquina dos caracóis (aka babyliss) à avó!!
- posso usar rímel?
- posso pôr uma sombra?
- vais deixar-me fazer depilação?
- já trouxe a máquina dos caracóis da avó, não precisas de lhe pedir!
- então, já sabes se posso usar rímel?
- posso fazer a depilação hoje?
Enfim, eu que odeio interrogatórios e pressão, levar com isto 10 vezes/dia, de há 2 semanas para cá, tem sido maravilhoso. (revirar de olhos nível épico)
Agora o pior de tudo. Aquela cena chamada realidade.
Manhã do dia do casamento. Eu em modo mãe-super-querida-e-disponível, pus-lhe o rímel, a sombra e reinava a harmonia.
Fui fazer a salada para o almoço. Pedi que viessem pôr a mesa, porque o pai devia estar a chegar.
NADA. Nesta fase da nossa vida eu sou aquela voz inócua, que lhes passa pelos tímpanos tipo zumbido indissimulado e longínquo que não conseguem decifrar lá no planeta onde se encontram sempre.
Pedi mais duas vezes e a dada altura personalizei a coisa. Com a salada já feita, disse (ok, berrei):
- Diana! Vem pôr a mesa, se fazes favor!
...
...
Comecei a pôr a mesa, e quando sua excelência desceu finalmente, de telemóvel na mão, nas calmas, como se não fosse nada com ela, eu, a soprar pelas narinas o ar que me ia cá dentro tipo labaredas de fogo, soltei o lança-chamas que incendiaria toda a minha paz até sairmos de casa:
- Acabou-se o telemóvel. Estás de castigo! Estou farta de pedir as coisas vinte vezes e ninguém me ligar nenhuma!
E foram lágrimas, súplicas, o verdadeiro horror estampado no rosto de quem já não ia poder tirar fotos e publicar stories no Instagram!
- e andei a sonhar com este dia tanto tempo!
Foi-se o rímel todo. A tal da sombra absolutamente comprometida. Trombas de elefante. Olhos raiados de sangue. Uma indigestão de almoço. Quando já lhe estava a fazer os caracóis (não tenho o menor jeito, 5 minutos para cada canudo, um suplício, e ela sempre a dizer que não está assim e assado e que a avó é que faz bem, escaldei o dedo mindinho umas 5 vezes no maldito ferro), continua a chorar que nem uma madalena e eu tenho o derradeiro gesto de impaciência. Toalhita desmaquilhante e acabou-se o rímel e a sombra, ou o que restava dela. Mais choro. Mioleira fritinha de todo. Contar até 200 a ser manifestamente insuficiente para dar conta do recado.
No fim. Parou a choradeira, fiz os caracóis. Depois de um raspanete, lá permiti que levasse o telemóvel (sou uma fraca!). E repus o rímel e a sombra tão sonhados.
Este acréscimo hormonal lá em casa está a ser difícil de gerir.
E ela é muito drama queen para a pragmática que há em mim.
Depois penso. Será que a estou a traumatizar para todo o sempre? Será que sou demasiado exigente?
Mas há dias em que não. Em que tenho a certeza de que não posso compactuar com esta inércia em que eles vivem. tenho que exigir, senão onde é que vamos parar??
Depois penso. Será que a estou a traumatizar para todo o sempre? Será que sou demasiado exigente?
Mas há dias em que não. Em que tenho a certeza de que não posso compactuar com esta inércia em que eles vivem. tenho que exigir, senão onde é que vamos parar??
E é isto. Bem-vindos ao meu mundo.
{entretanto, numa nota mais descontraída, experimentei os tão famosos gelados de rolinho. uma delícia! e recebi mais dois livros novos. obrigada Book Depository!}
Gostei muito deste livro. Comecei de pé atrás e fui-me rendendo. Boa leitura!
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