Uma década de filha

Por vezes faço o exercício de rever os passos que dei naquele dia, há dez anos. Não sei se para reviver esses momentos irrepetíveis, se para não permitir que se me varram da memória.

No dia 9 fui ao hospital. As 40 semanas completavam-se naquele dia. Fizeram-me "O toque" e mandaram-me para casa com a sentença lida. - Se não nascer entretanto, já tem a indução marcada para dia 13. A miúda fez-me a vontade e não deixou que chegasse a tanto. Logo no dia 10, cerca das 17h, comecei com dores ténues, suportáveis. Deitei-me. Descansei. Respirei devagarinho. Fiz festas na barriga. Preparei-me para o que sabia que havia de vir. Era terça-feira, dia de jantar em casa dos sogros. Comi uma bela de uma sopinha de feijão por volta das 20h, já com as dores mais fortes, mas espaçadas. Levava a mala da maternidade no carro porque tinha a certeza que não regressava a casa. Para além dessa, também uma mochila com as coisas do Gabriel, que tinha na altura 1 ano e 10 meses. Eram quase 21h30 quando o deixei nos meus pais. Acho que foi o que mais me custou. Deixá-lo. Dei entrada no hospital às 22h e às 23h já estava no bloco. A Diana nasceu às 4h15 da madrugada de dia 11, num parto sereno mas intenso, sem epidural. 3.630Kg de uma bebé que parecia já criada, como se costuma dizer, sem peles para encher, com umas bochechas maravilhosas. 

A onda avassaladora de amor, de emoção, todas as que já passaram por um parto sabem como é. No meu caso era um misto de amor por aquele bebé novo que finalmente estava no meu regaço e as saudades imensas do outro que estava longe. Não sei explicar. Sei que só me senti verdadeiramente completa quando os vi juntos pela primeira vez. Acho que foi aí que, finalmente, chorei.

{11/10/2006} ♥