Às vezes vivemos tão embalados neste mundo cor-de-rosa made in hollywood, que esperamos que os nossos filhos sejam todos entretecidos em sentimentos puros e celestes e depois apanhamos grandes baldes de água fria quando dizem coisas ou têm reações contrárias a esta expectativa. E exclamamos: Que tristeza. os meus filhos são uns interesseiros e materialistas!
A realidade é que são diariamente injetados com uma mentalidade consumista e materialista. Mesmo que não estejam sempre colados ao ecrã, no caso de pais que se esforçam, efectivamente, por controlar e limitar o que veem na televisão, (ou no meu caso, que para além disso lhes transmito valores e princípios cristãos) na escola, os colegas fazem muitíssimo bem este trabalho e é muito difícil filtrar o que chega até eles.
Isto tudo a propósito do Dia da Criança que se assinalou ontem. Desde que eles eram pequenos que decidimos não lhes dar prendas neste dia. Claro que, não querendo ser fundamentalistas, também achamos insensível passar o dia em branco. Então a ideia é fazermos sempre algo juntos, enquanto família, mesmo que sejam coisas muito simples. Fugir à rotina. Criarmos memórias juntos. Termos tempo de qualidade uns com os outros. Para conversar, para ouvir, para rir, para brincar, para ficar em silêncio.
Ontem, quando liguei para casa a partir do comboio, como é habitual, assim que atendeu o telefone, a minha filha disparou: - compraste-me alguma prenda do dia da criança?
A resposta foi não, claro. Mas acrescentei: - Mas vamos fazer um jantar especial, diferente.
- não quero nenhum jantar. Quero uma prenda. Tenho poucos brinquedos! Tu sabes!
Sei, sei que mesmo os poucos que diz que tem não lhes toca, porque prefere passar o tempo a falar com as amigas no whatsapp. Sei também que é muito provável que as conversas na escola tenham sido muito à volta do "os meus pais deram-me/vão dar-me X ou Y". Sei...
Mas sei também que a nossa função enquanto pais não é dar-lhes tudo o que eles querem, mas tudo o que eles precisam.
Ontem preparei o farnel e fomos até ao parque da cidade. O pai deu uma corrida, comemos sandes de atum com tomate e azeitonas. Comemos batatas fritas de pacote (camponesas, as suas preferidas!). Comemos bolachas de chocolate e bebemos sumo tutti-frutti. Vimos os patos nadar, desenhando V's no lago. Vimos cisnes e melros. Jogaram à bola. Tirei fotografias. Demos abraços. Também se armaram em parvos. Claro. Não é dia se isso não acontece. Obriguei-os a ajudarem a limpar o local onde comemos. Recolher o lixo e arrumar os tupperwares. Vimos o pôr-do-sol. Comemos um gelado.
No fim, já com a noite a instalar-se, na curta viagem de carro até casa, disse à Diana: - sabes, filha. As melhores coisas da vida não são coisas. Espero que tenhas aprendido isso hoje. ♥
E é isto. Não cairam no nosso colo impregnados apenas de sentimentos nobres e elevados. Mas é nossa tarefa ajudá-los a encontrar o verdadeiro sentido das coisas. Nesta e noutras áreas da vida.
Os meus também falar nisso da prenda...mas também nao demos...fizemos um jantar diferente ;)
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