Reflexões [ou que lhe quiserem chamar]

8 de novembro de 2012

Os meus pais sempre contaram tostões. Recordo bem os momentos em que a minha mãe se entristecia por não poder comprar-nos uma peça de roupa nova ou uns sapatos novos ou o brinquedo que nós gostaríamos de ter. Mas engraçado que nunca senti que fosse pobre, não. Quando comecei a ganhar consciência das circunstâncias à minha volta já o pior tinha passado. Ali no início dos anos 80 a empresa em que o meu pai trabalhava fechou portas e mesmo antes de fechar, o meu pai passava temporadas sem receber ordenado e trabalhava à jorna noutros sítios ou a fazer biscates onde estes apareciam. Sei que houve alturas em que deixaram de comer para nos darem a nós, porque nos contaram, mas engraçado que nunca me senti pobre, não. 
Depois de casar senti sempre as bênçãos de Deus na minha vida e aprendi a confiar n'Ele nos momentos mais difíceis. Mesmo naqueles em que me interrogava porque não conseguia arranjar trabalho, mesmo naqueles em que achava que a vida podia ser mais justa comigo. Nunca tive estabilidade nem ordenados altos, mas nunca passei fome. Nem eu nem os meus. Do pouco que tenho arranjo sempre maneira de partilhar uma parte com quem precisa. "De graça recebeste, de graça dai." Aquilo que somos e aquilo que temos é de Deus. O que as pessoas por vezes esquecem é que neste mundo não existe apenas Deus, existe o outro lado sombrio, o lado daquele que as pessoas gostam muito de pintar com uns corninhos e um rabo pontiagudo, o que até lhe dá muito jeito, porque assim ninguém o leva a sério e ele vai destruindo como pode, quem pode, com a crueldade que lhe é permitida. Agora já estão todos a pensar que enlouqueci, porque afinal falar disto é tabu. Ou bem que é para fazer uma chalaça sobre o reino das trevas ou se é para falar a sério a coisa já é encarada como ficção científica, (como se fosse possível acreditar que Deus seja o causador do bem e do mal). Isto tudo para dizer que as coisas estão mal, pois estão. E vão ficar piores, vão. E o que eu sinto é que a fé me ajuda a manter-me à tona e a saber que em tudo existe um propósito maior do que eu, do que nós. E que o que me espera é muito melhor do que aquilo que esta terra me oferece nesta altura, ao ponto que chegou. Não ando aqui em vão, somos únicos, necessários e valorosos. Gostava tanto de poder partilhar isto com toda a gente e não sentir que as palavras batiam em paredes de cimento. Que não vale a pena entrar em pânico e desesperar. Que isto vai passar, um dia...
O próximo ano vai ser ainda mais difícil que este, a nível financeiro (e a outros que vêm por arrasto). O dinheiro não traz felicidade, mas compra medicamentos, roupa, sapatos, alimentos, um banho quente, um tecto sobre as nossas cabeças. Que no meio de todas as polémicas e dificuldades consigamos manter o norte e não abandonemos a humanidade que nos resta.
Hoje continuo a contar tostões para que o dinheiro estique para tudo, porque quis ter filhos, dois. Mas não me sinto pobre, não.

10 comentários:

  1. Oi raquel, gostei muito de ler este post, em muitas coisa me vi e revi.
    concordo não estamos a passar uma fase fácil e os tempos que se avizinham muito menos. acredito que temos de parar procurar e olhar mais para dentro, falar com o SENHOR.
    Bjos

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  2. Sabes Raquel...lêr-te trás sempre ânimo á minha alma.
    Uma mulher de fé, unida á familia e com um propósito. E essas tuas palavras enchem o meu coração. Sei que vem dias muito dificeis e já passei por algumas tribulações, mas o que é certo é que Deus não me falha e eu acredito, que embora o chão possa fujir de muitos de todos, O Senhor não me vai abandonar. E é ele que me dá alento para continuar com o barco para a frente. Apesar de tudo ele tem estado sempre comigo e mal ou bem, nada me tem faltado com a Graças de Deus.
    " O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará"


    Beijinho e obrigada pela mensagem...

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  3. Olá Raquel... não nos conhecemos, mas como já percebeste temos amigas em comum... não sou uma mulher de fé... ou pelo menos na fé como tu a descreves, no Deus como tu acreditas... acho que tenho uma "mistura de fés" se é que isto se pode dizer... mas sempre respeitei e admirei a fé de pessoas como tu e a Nocas têm... e senti necessidade de te escrever após ter lido o teu post, que mesmo não sendo uma mulher de fé... gostei muito do que escreveste! :)... também aderi ao desafio das fotografias, e confesso que o dia "Beliefs" me anda a meter os pensamentos à roda...:)
    Beijinho!:)

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  4. Adorei o teu post, amiga.
    E, tal como tu, também acredito que isto um dia vai passar e que, até lá, resta-nos continuar fiéis a nós próprios e a viver e fazer o melhor que conseguirmos com o que temos (ou vamos tendo).
    E com fé, sempre :)
    Beijocas

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  5. Infelizmente a minha infância nada tem de igual à tua, para além da ausência de alimentos, houve ausência de coisas mais essenciais, como amor, carinho...
    Enfim... mesmo assim desde que casei e que fui mãe, que tenho vindo a aprofundar a minha fé, tu sabes!
    E apesar de não partilhar a mesma religião que tu, Deus há só um, e concordo com tudo o que escreveste!
    A fé é o nosso fio condutor, temos de ter fé e esperança no mundo melhor que está há nossa espera, todo o resto é passageiro...
    E sim, todos somos especiais e estamos cá para evoluir e dar aprender a partilhar os dons que Deus nos deu...

    Beijinhos Raquel

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  6. É só para te dizer que és uma pessoa L I N D A :)

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  7. Somos todos pessoas lindas, Carina. Somos todos, mas obrigada pelo elogio.

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  8. Que bom é ler-te. Embora de credos diferentes o Deus é o mesmo.Gosto de ver a tua fé, essa fé que me alimenta nestes tempo mais difíceis.
    Um beijinho grande

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  9. Eh pá Raquel...podes crer, lá em casa somos 6, como sabes, hoje vivemos com o mesmo com que viviamos há 5 anos atrás e entretanto tivemos mais 2 filhos...e sentimo-nos ricos!Todos os dias.
    Um beijinho em ti e na familia linda que tens!
    Obrigada por esta partilha!

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  10. Amiga,

    Lindo !! Cheguei ao fim de lágrima no olho. É bem verdade, o que me dói ainda mais no meio disto tudo, é a perda de valores e a maldade das pessoas. A isso é que eu não me habituo. E deixa-me muito triste.

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Obrigada pela vossa visita!

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