Das birras

A irmã adormeceu no carro, enquanto esperávamos o pai, que tinha ido resolver um assunto. Ele, sentado na sua cadeira, fazia um barulho infernal com um daqueles instrumentos de plástico, estilo castanhola, que a Câmara tinha distribuído na escola.

Pedi-lhe várias vezes que parasse, até o ajudei a encaixar uma das peças que saltou, tal era a exuberância com que a abanava. A dada altura ameacei tirar-lhe a geringonça da mão.

A gota de água foi ele tocar aquilo mesmo ao ouvido da irmã (que mesmo assim não pestanejou e continuou a dormir).

Confisquei o dito! Acabara-se a paciência.

Chorou, fez o seu papel de miúdo injustiçado. Repetiu as deixas do costume (já não sou teu amigo, só sou amigo do pai!), que variam no sujeito conforme quem ralha com ele.

Assegurei-lhe que lho dava em casa mas que no carro não.

A birra durou até casa.

E como ainda foi mal educado para o pai, nem em casa lho demos.

Depois disto tudo, passados uns minutos, estava já eu sentada no sofá, a 'ver' (olhar para o vazio mode) os desenhos animados e a pensar no que faria para o jantar...vêm dois braços estendidos na minha direcção, um quero colo dito com muito mimo e um gosto muito de ti, proferido com todas as letrinhas, que me deixou tão, mas tão cheia de amor...

Há melhor que isto???

Acho que não.