As férias de Verão da minha infância

[Bélver - distrito de Portalegre]

Era quando as férias duravam 3 meses e chegávamos mesmo a ter saudades da escola. Quando não dormíamos na noite anterior à viagem de ida. Quando nos custava tanto ter de dizer adeus e vir embora.
Era o mês das cigarras e das tardes quentes. Era o mês de ir à horta, tirar água do poço com as cabaças e regar os legumes. Eram os fins de tarde abafados, já depois do banho tomado no tanque ou de mangueira. Era irmos espreitar, ao pôr do sol, a chegada do pastor com as suas cabras, que se faziam anunciar com os seus guizos ao pescoço desde muito longe.
Era o trilho de caganitas a perder de vista. Eram as romãs. Eram os sapos nos tanques. Eram os banhos no Tejo. Eram as brincadeiras no miradouro. Era despejar a sanita com um cântaro. Era ir buscar água à fonte.
Era ir buscar os ovos às galinhas. Era a pele macia e enrugada da minha bisavó. Era desfazer as sobras do almoço para dentro de um balde para ir dar às galinhas.
Era o cheiro a terra, as árvores, o calor, os insectos.


E a pena que eu tenho que os meus filhos não vão ter nada disto...
Mais ainda por saber que a casa que me acolheu é hoje um monte de tijolos a ruir. Que não tenho dinheiro para reconstruir as minhas memórias tão queridas. Que não posso fazer durar realmente aquilo que ainda guardo dentro de mim. Que quando eu já cá não estiver o que ali existiu acabou.